JUSTIFICATIVA:
A sexualidade está presente desde o nascimento e vai se transformando no decorrer da vida, como uma força dinâmica no desenvolvimento da personalidade e determinante do grau de felicidade e realização do adulto. As famílias e professores de creches e pré-escolas devem estar preparados para reagir com segurança, naturalidade e tranquilidade às expressões da sexualidade do bebê e da criança pequena. Tanto os profissionais quanto os familiares devem responder às manifestações da sexualidade infantil, pois na medida em que aparecem se constituem um tema de interesse a sexualidade da criança. Não se estruturando em horário específico e nem disciplina isolada. As questões inerentes ao tema sexualidade e gênero na infância devem ser trabalhadas e incorporadas no cotidiano da escola através de diferentes abordagens: contação de histórias, teatro, filmes, jogos, brincadeiras, música, poesia entre outros.
A sexualidade sempre foi um tema de difícil discussão, sobretudo para as crianças.
A curiosidade, a descoberta das diferenças no próprio corpo e no corpo do outro, a descoberta das carícias e a fonte incontestável de prazer que o sexo representa, fizeram do assunto um tabu e algo que ‘não é conversa para crianças’ contribuindo ainda mais na imaginação de cabecinhas ansiosas por informações.
Como educadoras de creches e pré-escolas, percebemos em nosso dia a dia o anseio das educadoras da mesma modalidade de ensino em orientar as crianças com relação à sexualidade e gênero. Por isso sentimos a necessidade de pesquisar e buscar alternativas para colaborar com a formação integral dessas crianças. Além disso, pretendemos ajudá-los a esclarecer suas dúvidas para que adquiram maior confiança em si próprio.
Por todos esses motivos se torna necessário que a escola tenha educadores preparados para esclarecer as dúvidas dos alunos. É importante que o professor demonstre que as manifestações da sexualidade infantil são prazerosas e fazem parte do desenvolvimento saudável de todo ser humano. Dessa forma, o professor estará contribuindo para que o aluno reconheça suas necessidades e desejos, ao mesmo tempo em que aprende as normas do comportamento necessário para viver em sociedade.
OBJETIVO GERAL:
Compreender a importância do trabalho com sexualidade e gênero na Educação Infantil com crianças em idade pré-escolar (4 e 5/6 anos de idade).
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
- Discutir a questão da sexualidade e gênero com as crianças;
- Desmistificar tabus em relação à sexualidade;
- Contribuir para o conhecimento e valorização da sexualidade infantil;
- Contribuir para a prevenção de problemas graves como pedofilia e violência contra a criança;
- Mostrar às crianças que a sexualidade é um assunto que deve ser tratado com muita naturalidade, pois é algo inerente e importante para o equilíbrio do ser humano;
- Ressaltar que o professor, além da família, exerce um importante papel na sexualidade da criança, orientando-a no dia a dia;
- Buscar uma prática reflexiva entre famílias e professores para que os tabus em relação à sexualidade e gênero sejam quebrados;
PÚBLICO ALVO:
Crianças e professores de pré-escola da rede municipal de Alfenas/MG
EMBASAMENTO TEÓRICO:
De acordo com os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – RCNEI/2007, a sexualidade tem grande importância no desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois independentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-se com o prazer, necessidade fundamental dos seres humanos. Nesse sentido, é entendida como algo inerente, que está presente desde o momento do nascimento, manifestando-se de formas distintas segundo as fases da vida. Seu desenvolvimento é fortemente marcado pela cultura e pela história, dado que cada sociedade cria regras que constituem parâmetros fundamentais para o comportamento sexual dos indivíduos. A marca da cultura faz-se presente desde cedo no desenvolvimento da sexualidade infantil, por exemplo, na maneira como os adultos reagem aos primeiros movimentos exploratórios que as crianças fazem em seu corpo.
A criança desde tenra idade expressa sua sexualidade de forma natural nos mais diferentes contextos de sua vida. A escola não fica alheia a esse processo, gerando impactos nos diversos agentes desse campo social. Por essa razão, alguns professores preferem ignorar as expressões da sexualidade infantil tomando a posição de reprimir os comportamentos dos alunos que remetam a essa questão.
A sexualidade infantil é muito mais autêntica porque as crianças em geral não precisam provar nada a ninguém e também não estão preocupadas com os padrões de “normalidade” que a sociedade impõe aos adultos.
Reprimir a sexualidade da criança é reprimir seu corpo, que se constitui na base real do seu próprio ser, sua relação consigo mesma e sua personalidade. Porque, afinal, não existe uma separação entre a sexualidade infantil e a sexualidade adulta. Existe sim uma ligação única e uma continuidade entre elas, ou seja, são inseparáveis e conseqüentes (NUNES E SILVA, 2006, p.52).
Sabemos que as perguntas ou comentários que as crianças fazem referente às questões da sexualidade também deixam muitos professores sem saber como agir. Muitos professores preferem não responder a tais questionamentos, retirando a sexualidade dos discursos e práticas correntes do contexto escolar. Figueiró (1999) aponta que o silêncio do professor educa tanto quanto qualquer outro tipo de ação. Quando ele finge que não vê ou se exime de trabalhar com as crianças as suas perguntas, está realizando também uma educação sexual que gerará conseqüências na vida desse sujeito.
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), no seu artigo 29, expressa que a Educação Infantil - primeira etapa da educação básica - “tem por finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, completando a ação da família e da comunidade”. Se entendermos que a proposta da Educação Infantil é trabalhar o desenvolvimento global da criança, e que, portanto, compete aos educadores infantis o trabalho com a totalidade das potencialidades infantis, compreendemos então que é indispensável trabalhar sexualidade e gênero como parte integrante do sujeito humano. Saímos da visão cartesiana, ou seja, da separação mente-corpo (MELO, 2004).
Tanto na Educação Infantil como nas séries iniciais do Ensino Fundamental, a Educação Sexual faz parte do desenvolvimento integral das crianças e acontece nas relações que estabelecemos com elas, nas perguntas que fazemos, na percepção do próprio corpo e do corpo de seus pares (meninos e meninas) e na descoberta dos prazeres (CAMARGO E RIBEIRO, 1999, p.60).
Para compreender melhor a expressão da sexualidade infantil é importante considerar que a criança se encontra em uma fase de intensas descobertas, desvendando a si própria e ao mundo, descobrindo-se como um sujeito e tentando compreender as diversas redes de relações com a realidade que a cerca. Tendo isso em mente, o educador poderá atuar de forma mais livre e ampla sobre seu papel como agente formativo da sexualidade de seu aluno.
PERCURSO METODOLÓGICO:
O presente projeto idealizado durante o curso “Tecendo a rede: gênero e sexualidade infantil” (UFLA/ Lavras) do qual participa um grupo de docentes da rede municipal de Alfenas . Considerando a amplitude do tema, optamos também por executar este projeto no Curso “Literatura e cinema, uma relação intertextual e de letramento audiovisual vinculada às ações formativas de Educação Integral”.
A população foi composta por supervisores e docentes da Rede Municipal de Educação Infantil de Alfenas-MG, sendo que a amostra foi composta por 40 participantes.
O primeiro passo para a aplicação deste projeto será um encontro entre os supervisores de pré-escolas, sendo que no referido encontro buscaremos aprofundar o conhecimento sobre sexualidade, família e escola. Será oportunizado que cada participante verbalize seu conceito sobre a temática.
Elaborar-se-á um cronograma visando a realização de atividades, tais como palestras, vídeos, artigos, vários materiais para discussão e problematização do tema. Este material também será utilizado nas reuniões modulares que ocorrem semanalmente nas escolas onde atuam os citados supervisores, com o objetivo de também instrumentalizar os professores que atuam diretamente com as crianças, já que serão eles os aplicadores das ações concretas em sala de aula.
Recursos Didáticos
- Reflexões e análises através de vídeos infantis que retratam subjetivamente o conceito de gênero.
- Jogos e brincadeiras adaptadas ao tema: gênero e sexualidade na infância
- Dinâmicas adaptadas
- Desenhos
- Colagens
- Pintura
- Poesia
- Teatro
Música:
- De Umbigo a Umbiguinho
Toquinho
Composição: Desconhecido
Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe já pulsava sem querer
O meu pequenino coração,
Que é sempre o primeiro a ser formado
Nesta linda confusão.
Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe já comia pra viver
Cheese salada, bala ou bacalhau.
Vinha tudo pronto e mastigado
No cordão umbilical.
Tanto carinho, quanta atenção.
Colo quentinho, ah! Que tempo bom!
De umbigo a umbiguinho um elo sem fim
Num cordãozinho da mamãe pra mim.
Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe me virava pra escolher
A mais confortável posição.
São nove meses sem se fazer nada,
Entre água e escuridão.
Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe começava a conviver
Com as mais estranhas sensações:
Vontade de comer de madrugada
Marmelada ou camarões.
Tanto carinho, quanta atenção.
Colo quentinho, ah! Que tempo bom!
De umbigo a umbiguinho um elo sem fim
Num cordãozinho da mamãe pra mim.
- Deveres e Direitos
Toquinho
Composição: Desconhecido
Crianças: iguais são seus deveres e direitos.
Crianças: viver sem preconceito é bem melhor.
Crianças: a infância não demora, logo, logo vai passar,
Vamos todos juntos brincar.
Meninos e meninas,
Não olhem religião nem raça.
Chamem quem não tem mamãe,
Que o papai tá lá no céu,
E os que dormem lá na praça.
Meninos e meninas,
Não olhem religião nem cor.
Chamem os filhos do bombeiro,
Os dois gêmeos do padeiro
E a filhinha do doutor.
Meninos e meninas,
O futuro ninguém adivinha.
Chamem quem não tem ninguém,
Pois criança é também
O menino trombadinha.
Meninos e meninas,
Não olhem cor nem religião.
Bons amigos valem ouro,
A amizade é um tesouro
Guardado no coração.
- Cada um é como é
Toquinho
Composição: Desconhecido
Papai é como é, entendo ele até,
Sua vida não é mole, não.
Sai pra trabalhar, só volta pro jantar,
Cochila em frente da televisão.
Mamãe foi sempre assim, cuidou sempre de mim,
Uma adorável chateação:
É um tal de toma banho, escova os dentes,
Troca de roupa e vai fazer sua lição.
Homem e mulher, que confusão,
Cada um é como é.
Por fora, tudo bem, por dentro não.
Ninguém parece com ninguém.
Vovó é genial, da casa é a mais normal,
Com suas manobras radicais.
Escondido ela me dá dinheiro pra gastar,
Nunca conta nada pros meus pais.
Vovô é o que há, tem sempre pra falar
Uma novidade genial.
Se esquece e conta sempre a mesma história
E adormece entre as notícias do jornal.
CRONOGRAMA DE ATIVIDADES:
- Criação de um boneco juntamente com as crianças: toda a turma deverá participar do processo de caracterizar o boneco (sexo masculino); escolher a roupa, o nome, os traços físicos, etc.;
- Criação de um cantinho na sala de aula onde será colocado o boneco. Este cantinho deve ser mudado constantemente, de acordo com o interesse da turma. Ex: em uma semana, as crianças poderão trabalhar com a decoração daquele espaço, na outra semana poderão levar presentes para o boneco (novo amiguinho), etc.;
- Exploração das atividades propostas no livro (criança e professor) “Era uma vez... a nossa história (Pré 5 anos)”, a partir da página 22 até a página 61 (interdisciplinaridade entre os eixos da Educação Infantil: linguagem oral, linguagem escrita, matemática, artes, movimento, natureza e sociedade, música, cidadania, sexualidade, educação ambiental, valores). Este capítulo tem como ícone principal o boneco Tuca (apelido). Por meio deste recurso pedagógico (boneco), as crianças serão levadas a discutir questões relacionadas a diferentes tabus, como por exemplo, o da cegonha como ave que traz os bebês, além de preconceitos, crenças, e atitudes existentes na sociedade.
Atividades sugeridas para momentos de repouso das crianças (após o recreio, dias chuvosos e final da aula):
- Dia de Cineminha: transmitir filmes ou livros digitalizados através de data-show cujo conteúdo aborda a questão da sexualidade:
LIVROS DIGITALIZADOS | FILMES | |
Mamãe botou um ovo (Babette Cole) | Espanta Tubarões | |
Menino brinca de boneca? (Marcos Ribeiro) | Mulan I | |
Tudo bem ser diferente. (Todd Par) | Mulan II | |
A bela e a fera | A bela e a fera |
Contação de histórias que abordam as questões de gênero e sexualidade;
Músicas que transmitem mensagens sobre sexualidade e gênero.
- Elaboração de uma cartilha informativa sobre algumas maneiras que os educadores (famílias, responsáveis e professores) devem tratar a questão da sexualidade infantil, de forma a garantir o bom desenvolvimento psíquico da criança.
A cartilha será distribuída às famílias e ainda deixada propositalmente em alguns locais púbicos como bibliotecas e postos de saúde.
Os professores colherão alguns depoimentos das crianças que acharem mais interessantes para serem reproduzidos na cartilha, tendo o cuidado de não colocar o nome do menor para não correr o risco de expô-los. Assim, o apelo para que a sociedade em geral reveja seus conceitos em relação à questão da sexualidade e gênero partirá das próprias crianças.
AVALIAÇÃO:
A avaliação deste projeto será contínua, transcrita em relatórios a partir das observações dos professores em relação à criança.
Acredita-se que a comunicação entre educadores e crianças tenderá a se estabelecer com mais facilidade, colaborando para que todo o trabalho pedagógico flua melhor.
Pretende-se também montar um portfólio que agregue todo o material recolhido durante o trabalho dos professores com as crianças.
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n 9394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf. Acesso em: 26 nov. 2008.
_______. Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC, 1997.
CAMARGO, Ana Maria Faccioli de; RIBEIRO, Claudia. Sexualidade(s) e infância(s): a sexualidade como um tema transversal. São Paulo: Moderna; Campinas, SP: editora da Universidade de Campinas, 1999
FIGUEIRÓ, Mary Neide Damico. Educação sexual no dia a dia: primeira coletânea. Londrina: O autor, 1999.
MELO, Sônia Maria Martins. Corpos no Espelho: a percepção da corporeidade em professores. Campinas/SP: Mercado de Letras, 2004.
NUNES, César; SILVA, Edna. A educação sexual da criança: subsídios teóricos e propostas práticas para uma abordagem da sexualidade para além da transversalidade. Campinas, SP: Autores Associados, 2006.
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